O 1ª Sepultamento no Cemitério São Miguel e Almas – Porto Alegre/RS

Colaboração: Cristiano Silveira

Depois de 59 anos de brigas: o primeiro sepultado no Cemitério São Miguel e Almas em Porto Alegre/RS
Inicialmente, quando Porto Alegre era o Porto dos casais, não havia cemitério, os corpos eram jogados na beira do rio ou sepultados em qualquer lugar, isso, logo com a chegada dos casais açorianos. Mais tarde, com a construção da igreja, da Matriz, em 1779, uma das poucas grandes igrejas em estilo barroco (embora, quando o estilo já estivesse em declínio), os corpos passaram a ser sepultados lá, ao lado, sem cemitério, uma prática comum até o século XIX: quanto mais próximo ao altar, maiores as chances de salvação da alma.
Mas com a Revolução Farroupilha, entre 1835 e 1845, o número de sepultamentos aumentou, assim como a insalubridade e as epidemias de tifo e cólera.
A medida do presidente da província foi mudar a localização do cemitério, para um local distante e alto, que dissipasse o cheiro e o risco de contaminação. Foi escolhido os altos da Azenha, depois muito conhecido por “Lomba do Cemitério” e hoje ainda estão lá a maioria dos cemitérios de Porto Alegre. E assim foi fundado o Cemitério da Santa Casa de Misericórdia, em 1850, para TODOS. Os primeiros sepultados: uma escrava e um marinheiro.
A elite católica não aceitou nada bem a atitude do governo. Ter seus entes sepultados juntos à ralé era uma enorme injúria à memória e status do falecido. Aí, iniciam os 59 anos de brigas e discussões, tanto com o Cemitério da Santa Casa, quanto com o governo da Província. Fizeram todas as propostas possíveis, cartas ao presidente e muitos nãos. Chegaram a comprar um enorme lote separado, dentro do cemitério da Santa Casa, para enterrar os seus, mas nem isso acalmou os ânimos.
Apenas em 1909, após 59 anos de brigas, a Irmandade recebeu a autorização para ter seu próprio cemitério.
O primeiro sepultado tem lugar de honra, apesar do túmulo simples… Manoel da Silveira Braga finalmente acabou com o tormento da Irmandade, com seu sepultamento em 14/05/1909. Um sepultamento nunca foi tão comemorado, porque não tinha mais volta, o cemitério estava consolidado.
Um salve ao Manoel!!!! Habemus cemiterio!
O Cemitério São Miguel e Almas foi projetado pelo arquiteto italiano Armando Boni (Itália,1886 – Porto Alegre, 1946) que estudou na Universidade de Parma e Bolonha e foi professor de engenharia na UFRGS. Com uma arquitetura bastante marcante, as instalações reúnem várias obras de diversos escultores da época (produzidas entre os anos 1820 e 1940), que fazem do São Miguel e Almas uma das principais referências em obras tumulares do RS. Embora um cemitério católico com ampla arte sacra, é marcante a presença de jazigos com arte greco-romana (figuras mitológicas), egípcias e chinesas, além da variedade de casas e escultores que ali deixaram seu legado.

Fonte: DILMANN, Mauro. Morte e Práticas Fúnebres na Secularizada República: Porto Alegre, Início do Século XX. São Paulo: Paco Editorial, 2016.
Imagens: Lidiane Fraga

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sumulastche

Brasileiro, casado, nascido em Viamão (RS) no dia 25/12/1976. Pesquisador de futebol desde os 11 anos de idade, membro da RSSSF Brasil (www.rsssfbrasil.com), desde 2000. Procuro dados sobre o futebol brasileiro, com a pretensão de levar a todos que visitem este blog, um pouco de história sobre nossos clubes, atletas e campeonatos.

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